Abrindo espaço em omundomaia para o professor Flavio Leandro dar o seu recado. Belo texto que senti-me na missão de compartilhar:
Meus Amigos e Minhas Amigas.
A imensa quantidade de movimento negro – que há décadas desmoraliza, cria constrangimentos, carnavaliza, usurpa, barganha e deteriora a legítima e justa causa negra – tem que ser definitivamente extirpado das fileiras das lutas de todos nós, negras e negros brasileiros. Se seus militantes julgam ter dado a sua contribuição à raça, tudo bem; peguem o chapéu e vão descansar. A causa negra não pode mais ficar subservientes de partidos políticos, de governos e nem de políticos que usam-na para os seus propósitos eleitoreiros. Deixem os que realmente desejam uma luta verdadeira e de vitórias avançar com a causa.
No Brasil há milhares de siglas tuteladas por partidos políticos, por governos e subsidiadas com o dinheiro público. E resultado das lutas e conquistas dessas siglas é sempre o mesmo: encontros com não sei quem, não sei aonde, para fazer não sei o quê; criada mais uma entidade de defesa quilombola (são milhares sem a participação de Quilombolas legítimos); discutidas mais ações afirmativas para a igualdade racial; fomos eleitos membros do conselho político-tutelado pelo nosso trabalho que não dá em nada; recebemos o premio “pouca bosta” pelo nosso trabalho em coisa nenhuma... e os reais, justos e verdadeiros benefícios para a raça negra ninguém sabe ninguém viu.
O que atrapalha, sobremaneira, (não traz resultado e não faz a luta da causa negra avançar) é a notada segmentação ideológica, política e a divergência religiosa que divide os movimentos negros em verdadeiras facções. É movimento negro do DEM; do PSDB; do PT; do PP; do PC do B; do PCB; do solidariedade; movimento negro do PSD... Todos pajens e miquinhos amestrados dos Cesar Maias, Família Sarney, Renans Calheiros e dos Josés Dirceus da vida. Uma vergonha!
Nos Estados Unidos da América uma entidade e uma única sigla – a NAACP; Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (em inglês: National Association for the Advancement of Colored People) – desde a sua fundação, em 12 de Abril 1909, obteve conquistas que verdadeiramente merecem o título de histórica. E nunca viveu sob as rédeas de partidos ou de qualquer político, nem tampouco de qualquer religião, ainda que muitos de seus líderes pertencessem a inúmeras denominações e tendências religiosas diversas.
A NAACP sempre combateu duas frentes primordiais: a da educação e as das questões judiciais, a exemplo dos processos impetrados contra as chamadas Leis de Jim Crow, que privavam os negros de direitos civis.

E no Brasil? Quais as ações dos milhares de movimentos negros que trouxeram ou trazem benefícios à causa negra?
Frases feitas, discursos panfletários tipo, nossas conquistas históricas. Conquistas históricas com racismo em ascensão – exclusão do negro nas esferas sociais; dependência de cotas para acessar universidades e serviços públicos; absurda diferença salarial em relação ao cidadão branco; ausência do poder público em regiões e áreas habitadas por maioria do contingente negro; abandono total das Comunidades Quilombolas; exclusão dos heróis e heroínas negras nos compêndios de História do Brasil; exclusão dos escritores e das escritoras negras nos compêndios de Literatura Brasileira e nas principais feiras literárias no exterior; e uma infinidade de outras mazelas – não são conquistas. São vergonhosas derrotas. Derrotas históricas, isso sim.

A legítima luta da causa negra requer a respeitabilidade e aceitação das diferenças, mas sem carnavalização. Há uma emergencial necessidade de convergir e irmanar todos os negros e negras numa só luta, num só propósito, independente de religiosidade ou de ideologias políticas. Agrupar evangélicos, candomblecistas, umbandistas, católicos, mulçumanos, judaizantes, budistas, seguidores de Jah e outras crenças, independente de denominação, faz-se necessário. Promove o fortalecimento da raça e dá avanços e vitórias à causa negra
Passeatas e eventos diversos, relacionados à causa negra, têm que ter objetivos e propostas relacionadas à causa negra. Não pode fugir disso. A religiosidade tem que ser cultuada no espaço específico: nos seus templos.
É o sonho de a negritude brasileira ver a raça irmanada numa só luta, num só propósito, numa só causa, num só ideal que englobe todos os nossos desejos e anseios... Martin Luther King era pastor protestante, e nunca um ato liderado por ele teve conotação ou terminou em manifestação protestante. Por isso, a causa que ele defendia conquistou vitórias; ele deu sua própria vida, mas deixou legado e entrou para história.

O meu pensamento e ação não é o de detratar ou de tirar o pão da boca dos que se alimentam do regurgito político partidário nas quais estão encabrestados, mas o de exigir dignidade, respeito e seriedade na legítima luta da causa negra.
Solano Trindade, um dos maiores poetas brasileiro – injustamente excluído dos compêndios de literatura brasileira – também já demonstrava nos seus poemas a sua indignação contra os negros exploradores da raça negra: Negros que escravizam e vendem negros na África não são meus irmãos. Só os negros oprimidos escravizados em luta por liberdade são meus irmãos. Para estes tenho um poema grande como o Nilo.
Abraços a todos.
Flávio Leandro
Cineasta; Professor de Produção de Cinema e Vídeo; Professor de Produção Teatral.
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