Mais uma vez a jornalista alagoana Gabriella Lima Padilha contribui com um texto para O Mundo maia. Gabriella, seja sempre bem-vinda! O espaço é seu na hora em que quiser. E se você quer expresar algo aqui é só falar. Como diz lá em cima: Espaço mutante de experimentações e troca de idéias.
Macabéas alagoanas
“Como
a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num
quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são
facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam. Poucas se
queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem. Esse quem será
que existe?”
(A
hora da estrela, Clarice Lispector).
“O
direito de ter direitos é uma conquista da humanidade”.
(Cidadão de papel, Gilberto Dimenstein).
As
mulheres alagoanas também possuem esses direitos, mas em alguns casos não os
conhecem. Em Maceió, trabalhadoras do Mercado da Produção realizam seus
trabalhos sob péssimas condições, o local não possui estrutura básica como
saneamento, nem o mínimo de higiene para se trabalhar. Mulheres maltratadas
pela vida, excluídas do meio social e que tem em seu humilde trabalho a única
forma de sustentar sua família.
Podendo
então comparar essas mulheres a personagem Macabéa do livro a “A hora da
estrela” de Clarice Lispector, que era ignorada pela sociedade, as pessoas não
a enxergavam e que sofria sozinha as dificuldades da sua vida.
Assim
como a personagem do livro, essas trabalhadoras não reclamam os direitos que possuem
nem buscam conquistá-los para si o direito de no mínimo ter condições dignas de
vida e de trabalho, porque na maioria das vezes se quer sabem que os tem e,
além disso, também não sabem a quem reclamar.
“É o
direito de ser negro, índio, homossexual, mulher, sem ser discriminado”,
(Cidadão de papel, Gilberto Dimenstein).
Apesar
dos direitos conquistados pelas mulheres a sociedade ainda é predominantemente
machista. Hoje as mulheres realizam trabalhos que até poucos anos eram
realizados apenas pela mão de obra masculina, entretanto a remuneração dada a
elas nessas funções não são as mesmas destinadas aos homens. Eles quase sempre
ganham o dobro do que uma mulher que exerce a mesma função de trabalho recebe.
“As
mulheres relegadas a segundo plano, passaram a poder votar, símbolo máximo da
cidadania. Até há pouco tempo, justificava-se abertamente o direito do marido
de bater na mulher em nome da honra.”
(Cidadão de papel, Gilberto Dimenstein).
Em
Alagoas as mulheres principalmente as mais humildes ainda sofrem bastante a
discriminação por parte da sociedade. A desigualdade é ainda mais evidente,
principalmente nos bairros periféricos onde as mulheres na maioria dos casos
vivem a mercê dos maridos e são tratadas da pior forma possível por seus
companheiros.
Mesmo
com todos esses direitos assegurados, como os presentes na Lei Maria da Penha,
que as protegem da violência doméstica. O preconceito ainda impera sobre elas. Mas
não para por ai as dificuldades enfrentadas pelas Macabéas contemporâneas.
A
falta de escolaridade, a ignorância por parte dos pais que tem uma mente machista,
a necessidade de começar cedo a trabalhar, são alguns exemplos de dificuldades
enfrentadas por mulheres de classe baixa em especial. Essas trabalhadoras do
mercado da produção vivem nessas condições precárias por falta de opção, já que
a maior parte delas não tem o que fazer, a não ser vender suas frutas, legumes,
entre outras coisas nessas feiras livres.
Elas
passam a maior parte do seu tempo ali, trabalhando para terem o que comer e alimentar
suas famílias. Elas vivem felizes mesmo com a miséria
em torno delas, não se tem concorrência e nem ânimo para crescerem na vida,
acham aquilo tudo normal. É o retrato inconfundível da Macabéa, pra elas tudo é
normal.
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