quinta-feira, 31 de março de 2011

Para não deixar morrer - centenário de Assis Valente



“A genialidade de um poeta está na originalidade das escolas que faz. Assis Valente surpreende a cada imagem. Quanto ao fraseado melódico , é deliciosamente molhadoe cheio de ginga. Coisa de gênio. Olha só: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torrada ele bebeu para ti”. Não é genial?”


Renato Borghi


Um dos maiores gênios da nossa música popular, Assis Valente foi pouco lembrado na semana passada. Se estivesse vivo, completaria 100 anos em 19 de Março último. Para ele tudo era motivo de música. Ia com uma facilidade incrível da melancolia a irreverência, do satírico ao social. Camisa Listrada,Tem Francesa no morro, Brasil Pandeiro, Bateu-se a Chapa, Uva de Caminhão, E o Mundo não se Acabou, Boas Festas, Cai Cai Balão estão entre algumas de suas principais composições, dessas que a gente cantarola sem nem saber o motivo, pois já fazem parte do inconsciente coletivo.

Apesar do sorriso que sempre estampava na maioria das fotos em que aparecia, sua vida pessoal era uma sucessão de tragédias. Cada momento de alegria era sucedido por um longo período de amarguras que ele colocava em uas músicas: “Esperando a felicidade para ver se eu vou melhorar, vou cantando fingindo alegria para a humanidade não me ver chorar” é um exemplo . Com vários complexos, foi menino abandonado na Bahia, explorado por uma família que o adotou, depois do estrelato já no Rio de Janeiro, foi abandonado pela esposa que levou sua pequena filha. Tentou várias vezes tirar a própria vida até que em 11 de Março de 1958 tomou guaraná misturado com formicida. Morria aos 50 anos depois de toda uma vida tentando aceitar-se, entender-se, consolar-se. Naquele momento de desespero, ele não podia imaginar a falta que faria. Só conseguia pensar na rejeição que sofria dos meios artísticos, nas dívidas que o perseguiam, no fracasso que achava que era. Lembrava da infância desafortunada e da necessidade de ter uma família só sua.

Depois dos infortúnios que passou ainda na Bahia, veio para o Rio de Janeiro, onde além de despontar como compositor, também exercia a profissão de protético. Teve em Carmen Miranda, de quem era fã e depois se tornou amigo, a sua principal intérprete. Às dificuldades pessoais de Assis Valente somava-se a nova transformação no cenário artístico brasileiro. Na via inversa que levou Carmen Miranda aos Estados Unidos (Assis se sentiu traído e abandonado por sua amiga e intérprete) o Brasil começava a passar por uma invasão de ritmos estrangeiros: Swing, a rumba, a conga, bolero, o boogie-woogie, crescia os modismos norte- americanos nos ares nacionais. Quase não havia mais espaço para as canções de Assis Valente. Hoje, cada vez mais as novas gerações descobrem a música desse que hoje brilha como estrela no nosso céu e continua a inspirar os novos compositores. Vida longa a sua obra!


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Aos mestres com carinho

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