domingo, 23 de junho de 2013

A obra de Sartre


Este foi um trabalho feito para a disciplina de Filosofia da Religião no curso de Ciência das Religiões da pós graduação da Faculdade São Bento



Entre Quatro Paredes  
                                           L´Être et le Néant

Sartre
Aluno: Carlos Maia                        Professor: Jair Reis

L’ Existentialisme Est Un Humanisme              A Naúsea


Le Diable et Le bom Dieu



Introdução
                    Existencialismo. A simples menção a esta palavra imediatamente é assossiada ao filósofo Francês Jean Paul Sartre. Embora não tenha sido o primeiro exitencialista (antes dele se destacaram alguns pensadores da existência, inclusive de origem cristã) foi o primeiro a assumir-se como tal. Podemos dizer que Sartre foi um filósofo pop, que através da literatura, peças teatrais e conferências ajudou a propagar o seu existencialismo assumidamente ateu. Os personagens de Sartre escritor encarnam as idéias de Sartre filósofo. E o que vem a ser existencialismo? Em primeiro lugar é importante lembrar que é um conceito que abrange pensadores dos mais diferentes matizes, mas com um foco em comum: a exitência. A filosofia, em grande parte se preocupa com questões referentes as nossas origens ou qual o sentido da vida.  A corrente filosófica que aqui nos ocupamos está preocupada com o existir. Sartre chegou a afirmar: A existência precede a essência”. Podemos dizer que sua filosofia é uma análise impiedosa da situação existencial do homem quando “Deus está morto” (a expressão é de Nietzsche). Talvez a característica mais original de sua obra seja sua preocupação de expressar em uma reflexão filosófica metódica e sistemática o grande problema moral da literatura no século XX: a angústia da responsabilidade humana para um homem que não adimite nenhum guia no exercício dessa responsabilidade. No presente trabalho passaremos pelo traços biográficos e bibliográficos do filósofo francês, seu pensamento e o modo como vê  a questão de Deus e como sua obra reflete sua vida pessoal.                


Traços Bibiográficos e obras
“Todo ser nasce por contingência, se prolonga por fraqueza e desaparece por acaso”.
Jean Paul Sartre em “A Náusea”

      Jean Paul Sartre nasceu em 21 de Junho de 1905 em Paris. Perder ainda cedo seu pai e em virtude do novo casamento da mãe foi morar em La Rochelle, onde seu padrasto era diretor dos estaleiros. Em La Rochelle ele travou conhecimento com a burguesia da qual fará sátira em Le Nausée e em L’ Enfance d’um Chef.
              Em 1925 ingressou na Escola Normal Superior em Paris. Em 1928 tornou-se Agrégé de Philosophie (professor titular de Filosofia) e após o serviço militar foi nomeado para lecionar no Liceu do Havre. Mais tarde, exerceu o magistério no Liceu Henrique IV e, posteriormente (1934),  no Instituto Francês de Berlim.
                   Na época de seus estudos universitários, Sartre pasosu uma temporada em Friburgo onde seguiu as lições de Husserl. Em 1939 foi convocado para o exército tendo caído prisioneiro em 1940. Libertado, participou ativamente do movimento de resistência. Em 1943 publicou sua principal obra, O Ser e o Nada.
Professor de Filosofia, literato e, finalmente comentarista político, fundoua  revista “Les Temps Modernes”. Sartre era casado coma também filósofa existencialista Simone de Beauvoir, sua companheira de toda a vida.
         É importante salientar que Sartre sofreu, na formação de sua personalidade, a influência da mentalidade existente na Europa no período entre duas guerras mundiais, período de fermentações, esperanças, ilusões e fracassos.
Sartre e o Marxismo: Apesar do desprezo que os marxistas dão ao existencialismo (filosofia burguesa decadente, a sociedade burguesa despojada de seus privilégios e de suas perspectivas para o futuro declara o mundo e a vida absurdos, A náusea de viver não se encontra entre aqueles que vivem do seu trabalho, mas dos que vivem do trabalho dos outros), Sartre era assumidamente marxista. Pretendia conciliar o marxismo, que explica o ser humano por suas condições sociais com seu existencialismo, que dá primazia à experiência vivida pelo indivíduo.


Algumas das principais obras de Sartre:
Obras filosóficas
1938: L’Imagiflation
1939: Esquisse d’une Théorie dês Emotions.
1940: L’Imaginaire. Psychologie Phénoménologique de l’imagination.
1943: O Ser e O Nada (L1Être et Le Néant. Essai d’Ontologie Phénoménologique)
Sobre O Ser e O Nada vale lembrar o que disse Foulquié:
“Seriam suficientes os dedos das mãos para contar os que tiveram a paciência de ler linha a linha O Ser e O Nada, e muito menos para contar os que podem, com toda a lealdade afirmar que o entenderam sempre. Esta obra se endereça aos especialistas que, eles mesmos, confessam não estar seguros de que o compreenderam bem”.
1960: Critique de La Rasion Dialetique

Romances e Novelas
1938: La Nausée. A ideia central dessa obra é que, em condições normais, nada justifica a existência. Aí está a experiência central da filosofia sartriana desenvolvida posteriormente nas setecentas páginas de O Ser e O Nada. O existencialismo francês nasce com este livro onde uma questão propriamente filosófica a existência, é tratada de forma romanesca.
1939: Le Mur – Série de novelas,a  primeira das quais dá o título do livro. “Le Mur” (o Muro) simboliza a morte que nos separa de toda outra existência.
1945: Les Chemins de La Liberté

Teatro

1943: Les Mouches
1944: Huis-Clos
1946: Morts sans Sépulture
1951: Le Diable et Le bom Dieu – Goetz, o protagonista desta peça na qual Sartre combate a idéia de que existe um Bem absoluto e definido e um Mal absoluto e definido, exclama: Deus não existe! Alegria, lágrimas de alegria! Aleluia! Já não há céu, não há inferno, só há Terra!”.

           Estes são apenas alguns dos mais importantes trabalhos de Sartre. Suas obras respiram uma atmosfera de náusea e estão repletas de frases demolidoras, negativas, tais como: “O homem é uma paixão inútil”, “A criança é uma coisa vomitada”, “O inferno são os outros”, “Decidi ser o que o crime fez de mim”, a vida é uma palhaçada sem sentido”.

As fontes do pensamento de Sartre
                    As ideias dos pensadores existencialistas possuem geralmente um forte sabor de experiência pessoal. O mesmo acontece com Sartre, e nas experiências de sua vida é que vamos encontrar em primeiro lugar as fontes de suas ideias filosóficas. Assim os exageros do Sartre procedem do fato de que não se pode libertar de suas experiências da guerra. É sempre a total responsabilidade na solidão. Sua concepção do mundo procede substancialmente das experiências de sua vida. Submetido ao domínio de um ditador, que não recuava diante da aniquilação de todas as classes sociais, os franceses experimentaram situações limites no sentido de que parecia haver-se alcançado até onde se pode chegar a crueldade humana. Sartre possui uma potência quase brutal para analisar as forças negativas e destruidoras da sociedade humana.

               Dentre os filósofos que contribuíram para a gênese do pensamento de Sartre podemos destacar:
          Descartes: Como francês Sartre sofreu o impacto do racionalismo gaulês e sobretudo de Descartes cujo cogito ele enlaça mediante a fenomenologia com a temática existencialista.
          Kiekergaard: Como os demais filósofos existencialistas Sartre também sofreu a influência de Kiekergaard, porém a problemática da existência, desenvolvida pelo pensador religioso dinamarquês, ganha de Sartre soluções totalmente antitéticas.
          Em Freud, Sartre busca inspiração para sua teoria do amor como forma de posse.
           De Hegel procedem algumas das ideias fundamentais de Sartre: Adota o conceito da oposição de ser e não-ser deixado porém sem síntese.
          De Feuerbach (e Marx) recolhe o postulado de que o homem é matéria orgânica, da qual a  consciência é  uma manifestação (doutrina também de Freud).
           Heidegger: É forte a influência de Heidegger em Sartre. Como exemplo o princípio de que o ser é “mundanidade”, ser-no-inundo.
     Husserl: Sartre se aproveita do método fenomenológico de Husserl. Suas teorias representam o suporte geral do sistema de Sartre que as aplica amplamente. O que importa não é tanto o que Husserl ensinou realmente, mas o que Sartre  considera como sua doutrina.

                                        O pensamento de Sartre
Sartre afirmou: “O existencialismo é humanismo”. Com isso ele queria dizer que o existencialismo tem como ponto de partida única e exclusivamente o homem. O humanismo de Sartre vê a situação do homem de uma forma mais sombria que o humanismo do Renascimento. Como já foi dito, Sartre era ateu. Podemos até dizer que era um ateu consciente, pois acreditava que justamente por não existir um Deus criador a vida era um absurdo sem sentido. Esse sentimento de uma vida sem razão de ser, carecedora de sentido e a descrição que o filósofo faz da náusea diante da vida nada mais é do que a expressão do sentimento e de uma realidade característica de uma geração que viveu o período de entre-guerras.
Essência e liberdade: Sartre afirma que a existência humana precede todo e qualquer sentido. O homem não possui uma natureza, uma essência. Para ele se existisse uma essência ou natureza não seríamos livres, pois a tal essência já definiria desde o nascimento todo o nosso percurso. E por não existir uma essência a qual se apegar somos o tempo todo responsáveis por nossos atos: “O importante não é o que fazem conosco. O importante é aquilo que fazemos do fazem conosco. O homem é antes de tudo aquilo que escolheu ser: está condenado a liberdade”, afirmava. Condenado porque não se criou e mesmo assim é livre. Sartre nos vê como atores colocados em um palco sem um texto decorado, sem um papel ou um “ponto” para nos sussurrar ao ouvido o que dizemos fazer ou dizer. Nós mesmos temos que decidir como queremos viver. Embora Sartre afirme que a vida não possui um sentido inato ele não era um niilista, alguém que acha que nada tem sentido e que tudo é permitido. Para ele a vida deve ter um sentido que deve ser inventado por nós mesmos.
Deus
Deus seria um sério obstáculo a liberdade total e completa. Por isso vemos os personagens de suas peças encarando Deus numa visão deformador a e blasfema , como algo que deve ser afastado. Em uma de suas peças diz: Quando a liberdade explode na alma de um homem os deuses nada podem contra esse homem. Sartre como nenhum outro filósofo soube formular o dilema: É preciso escolher entre Deus e o absurdo. Ele escolhe o absurdo, o sem sentido com todas as suas consequências.
Conclusões acerca do existencialismo ateu de Sartre
O lado positivo do existencialismo
               Talvez o mérito principal desta filosofia esteja no fato de ter chamado a atenção para o fato de que a existência humana é algo bem distinto de tudo mais que existe no mundo, levando-nos a considerar os problemas reais que afligem o ser humano no seu labutar, revalorizando em oposição ao materialismo cientificista, a realidade do subjetivo, devolvendo ao homem a inalienável responsabilidade que deve assumir no compromisso pessoal. Além disso, contra o Idealismo, o Positivismo e o Racionalismo o existencialismo representa, até certo ponto, uma sadia  reação demonstrando que nem tudo é abstração e razão e que a experiência, a intuição e até mesmo o irracional tem também seu lugar no ser humano. A chamada feita para que o ser humano realize suas potencialidades e assuma suas responsabilidades também é bastante significativo.

O lado negativo
      Focalizando a existência do ser humano, o existencialismo suprime-lhe a essência. Todos possuem algo fundamental em comum que constitui sua essência, a essência humana. O existencialismo está repleto de contrastes. Ao mesmo tempo hipervaloriza a existência individual, deturpa a relação com o outro (o inferno são os outros, diz Sartre na peça Entre Quatro Paredes). Infelizmente como o existencialismo despreza os valores universalmente válidos que conferem à vida humana uma finalidade, um valor, um sentido, não oferece motivação suficiente para que o homem leve uma existência autêntica.
            Podemos concluir que o pensamento sartriano nos aponta caminhos, nos faz refletir sobre inúmeras questões inerentes à nossa vida e que, apesar de ser muito útil para a reflexão séria, não pode ser adotado por uma autêntica experiência religiosa. O que podemos fazer é tomar a sua filosofia e lê-la a luz da prática religiosa que sem dúvidas nos aponta perspectivas muito mais otimistas e seguras a respeito da nossa existência.

Bibliografia utilizada
O Existencialismo à Luz da Filosofia Cristã – Mário Curtis Giordani – Editora Ideias & Letras;
O Mundo de Sofia – Romance da História da Filosofia – Jostein Gaarder – Cia das Letras;








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