Compartilhando aqui um trabalho feito por mim quando era aluno do curso de pós - graduação em Ciências da Religião da Faculdade São Bento. Disciplina: Tópicos Especiais de Ciências da Religião
Ano: 2012
Introdução
Em nossos dias se
manifesta cada vez mais em nossa sociedade uma tendência que antes era restrita
apenas a alguns setores do âmbito intelectual e acadêmico: O ateísmo, ou seja,
a convicção de que não existe uma força divina, que não existe nenhuma
transcendência. São vários os motivos pelos quais uma pessoa se declara ateia e
vão desde convicções de ordem intelectual até as de ordem mais sentimental como
a revolta e a indignação com o mal e o sofrimento no mundo. Assumir uma postura
ateística não é fácil em nenhuma cultura, pois significa romper com todo um
esquema definido, com toda uma visão de mundo (A história, por exemplo, é
definida como antes e depois de Cristo). Em muitos casos os ateus enfrentam até
o preconceito no meio onde vivem. A postura de qualquer pessoa religiosa para
com os ateus deve ser de respeito e tolerância, até porque quando é colocado
diante da pessoa de fé o problema da não existência de um Criador a busca por
respostas pode ser grande ajuda para entender sua própria fé diante das
questões apresentadas. Por outro lado, em nossos dias é preciso também se
defender de ataques que muitas vezes são feitos contra a fé seja ou mesmo
orientar os que possuem uma visão estereotipada sobre a vivência religiosa. Como disse Pedro, “Estejam sempre prontos para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a
razão da esperança que há em vocês (I Pe
3:15)”. O iluminismo racionalista do
século XIX introduziu-se no século XX através
do positivismo de Augusto Comte (Só é acreditável – afirmava- o que se possa
aprender por uma experiência sensível); do evolucionismo materialista de Darwin
( a existência atual das espécies – sustentava – é regida por leis evolutivas
mecanicistas); do pansexualismo de Freud, (o comportamento humano – pontificava
– é fundamentalmente uma consequência derivada do instinto sexual) e de tantos
outros que, de uma maneira ou de outra, ignoravam Deus ao tentar explicar a
razão de ser do universo e do homem até tal ponto que permitiram a Nietzche
dizer: “Deus morreu.” Essa mentalidade chegou até nossos dias a tal ponto de
muitos terem um certo pudor em manifestar sua fé em público. A religiosidade
agora é algo que deve ficar restrito ao campo pessoal sem maiores consequências
no meio em que se vive, estuda, trabalha. Mesmo os ambientes não ateus
absorveram muitas ideias dos pensadores citados acima. Através deste trabalho
iremos ver alguns dos principais pontos em que se apoia o pensamento ateu nos
dias de hoje.
Por
que ser ateu?
“Há dois tipos de ateus:
os que não acreditam que Deus existe e os que acreditam piamente que Deus não
existe. Os primeiros relutam em crer naquilo de que não têm experiência. Os
segundos não admitem que possa existir algo acima da sua experiência. A
diferença é a mesma que há entre o ceticismo e a presunção de onissapiência”.
Olavo de Carvalho
Segundo Rafael Llano Cifuentes,
ninguém é ateu porque tenha a evidência de que Deus não existe. Segundo ele o
posicionamento ideológico nunca parte de um estudo científico, mas de uma opção
de caráter pessoal, que nega qualquer transcendência. Sendo assim os motivos viriam de decepções
com líderes religiosos, traumas pessoais (perda de um ente querido, por
exemplo), de se deparar com o mal e o sofrimento no mundo, etc. Questões que
nada tem de científicas, mas que na verdade, são de ordem emocional. Dois
exemplos: a) Um jovem rapaz pede a Deus uma namorada e não é atendido. Ele, em um momento de revolta e desencanto
por não ter seu pedido atendido,
desenvolve uma revolta para com a ideia de um Criador. b) Um homem ao
perder seu filho em um acidente chega a conclusão de que não pode existir uma
força superior se uma tragédia assim aconteceu em sua vida. Os exemplos citados
são muito comuns no dia a dia são das principais causas da descrença de boa
parte dos ateus. Existe também um outro tipo de ateísmo que nasce daqueles que
ao se deparar com um ambiente científico, filosófico e diante do mundo
acadêmico, entram em choque com o que aprenderam em suas catequeses, escolas
dominicais e outras formas de formação religiosa que muitas vezes param pela
infância ou adolescência e não continuam a se aprofundar pela vida. Para
rebater a crença religiosa usam uma frase muito repetida no meio intelectual:
“Não existem verdades absolutas.” Mas a
própria afirmação de que não existem verdades já não se constitui uma verdade?
Há
ainda outro ateísmo que se mostra muitas vezes agressivo a tudo que diz
respeito à religião. Este quer reduzir a participação de religiosos na vida
pública com a alegação de “neutralidade do estado laico”, deseja proibir
símbolos religiosos em ambientes públicos e pretende desacreditar de todas as
formas a fé, sendo muitas vezes ofensivo. Para o filósofo Olavo de Carvalho, a grande mídia e o sistema de ensino na maior parte
dos países insistem em continuar usando uma linguagem na qual religião é
sinônimo de violência fanática e na qual a eliminação de todas as religiões é
sugerida ao menos implicitamente. Para ele quando John Lennon em “Imagine”
fornece a descrição de uma sociedade paradisíaca, nem de longe se percebe que
seu apelo à supressão de todas as religiões é, em essência, uma legitimação do
maior dos genocídios.
Motivos
para não crer
O mal no mundo
“O sofrimento dos inocentes é a rocha do
ateísmo”.
G
Buchner
Pode Deus existir, se há tanta miséria e
maldade no mundo que Ele criou? Esta é uma questão que aflige até mesmo a
muitos homens e mulheres de fé. “Não se pode crer em um Deus que permita o
sofrimento dos inocentes” diz Albert Camus. Ao pensar no Divino rapidamente vem
a mente a figura de um deus que segura tudo em suas mãos e manipula o destino
da humanidade. Esse motivo costuma ser o primeiro apontado pelos que se dizem
ateus.
O contratestemunho das pessoas de fé
Em
muitos casos as contradições na vivência das pessoas religiosas escandalizam e
afastam a que as observa. Uma vida coerente em dúvida facilita a adesão de fé
dos observadores, ao passo que o mal exemplo a dificulta.
O claro-escuro da fé
As
proposições da fé são claro-escuras e nunca evidentes como 2+2=4. A linguagem
simbólica das religiões, que sugerem várias interpretações, se mostram confusas
para muitas pessoas.
O desconhecimento da doutrina das religiões
O
desconhecimento da mensagem religiosa ou os mal-entendidos a respeito daquilo
que a fé ensina. Muitos só conhecem a
religião infantilmente, como mencionado acima, e por isos a rejeitam em
nome da razão esclarecida.
Obstáculos de ordem moral
Em
muitos casos o ato de fé encontra resistência no ser humano, não porque põe
sérias objeções teóricas se lhe oponham, mas porque tal pessoa cede a um tipo
de vivência incompatível com a fé. Segundo Leonel Franca: “O que mais embaraça
na religião é o decálogo e no decálogo o 6° mandamento (que preceitua a
castidade) É esta a história de 99 sobre 100 das chamadas crises de fé na
juventude”.
Nem
sempre é fácil identificar a que corrente discurso pertence um ateu, e mesmo
entre os que não se professam ateus, mas anti- religiosos encontra-se o eco
Deístas: Cientes da impossibilidade de livrar-se
completamente de Deus, tratam de diluí-Lo numa noção tão geral, tão vaga e tão
abstrata que, no fim das contas, é como se Ele não existisse. A melhor solução
para eles é a teoria do deus ocioso - muito em voga no tempo do mecanicismo
renascentista - o qual teria criado o mundo segundo regras tão fixas e
imutáveis que toda interferência do criador se tornou desnecessária uma vez
pronto o mecanismo do mundo.
Agnósticos: Professam voltar as costas ao problema de
Deus e, modestamente, lidar apenas com questões acessíveis aos métodos da moderna
ciência natural, mas, feito isso, proíbem a investigação de qualquer objeto que
esteja fora do alcance desses métodos ou proclamam abertamente a inexistência
dele, mostrando ser ateus disfarçados que optaram por dificultar o acesso
àquilo cuja inexistência não puderam provar.
Gnósticos: Admitem
a existência do criador, mas proclamam que ele é mau, que fez o mundo contra a
vontade do verdadeiro deus, ente espiritual puríssimo que jamais sujaria suas
excelsas mãos criando isso; donde se segue a obrigação máxima do crente
gnóstico, a qual consiste em destruir o mundo ou modificá-lo radicalmente, de
preferência destruindo-o primeiro para depois substituí-lo por algo de
totalmente diferente. Dessa proposta dupla do movimento gnóstico nasceu uma
pluralidade caótica de seitas, das quais algumas se transformaram em movimentos
de massa a partir do século XVIII, gerando as ideologias revolucionárias do
anarquismo, do comunismo, do nazismo, do fascismo.
Ateísmo:
Se Deus não existe, tudo é permitido?
A
visão que as pessoas religiosas têm em relação ao ateu não raro são de
libertinos, beberrões e farristas, pessoas que “só querem curtir a vida, pois
depois tudo se acaba mesmo”. Mas será que é assim que um ateu vive? Por não ter
diante de si a confissão que absolve
todos os erros, a ideia de que está salvo pela fé ou o ato de oferecer
sacrifícios, oferendas a uma entidade superior o ateu, em vários casos, leva
uma vida reta moralmente até porque tem dentro de si a convicção de que só tem
esta existência terrena e que não pode errar. É diferente daquele que tem fé e
acaba se viciando em errar, pois pode sempre pedir perdão, voltar e tudo estará
bem. Compreender o ateísmo e suas
vertentes é de grande importância para as religiões.
Bibliografia utilizada:
-
Deus e o Sentido da Vida
CIFUENTES,
RAFAEL LLANO Editora Marques Saraiva
-
Por que Não Sou Ateu?
BITTENCOURT,
PE ESTEVÃO publicado por Mater Ecclesiae
-
Nós Pregamos Cristo Crucificado
CANTALAMESSA,
RANIERO Edições Loyola
-
Site consultado www.olavodecarvalho.org
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